
O Projeto



Os primeiros estágios do projeto do museu podem ser conhecidos graças aos desenhos preliminares conservados nos arquivos do Instituto Lina Bo e P. M. Bardi. Os primeiros esboços revelam uma concepção completamente distinta da solução final. Como ponto de partida a forma do museu era uma pirâmide de vidro, cuja estrutura era constituída de quatro enormes vigas convergindo para o vértice. Embora o ponto de partida possa parecer muito distinto da concepção adotada, o projeto do edifício evoluiu significativamente dos primeiros esboços à solução final. A forma estrutural permaneceu praticamente a mesma. As quatro grandes vigas foram transformando-se em pórticos de sustentação de uma caixa de vidro, dispostos diagonalmente. Essa caixa transparente evoluiu para a forma de um paralelepípedo, com os pórticos agenciados transversalmente. Finalmente, os pórticos foram arranjados longitudinalmente, chegando a solução final. A caixa transparente deu lugar a um volume opaco e a iluminação se daria através de aberturas na cobertura. Parte da setorização do museu, foi implantada em uma construção semi-enterrada, sob a caixa suspensa. Oposta a ela e ao acervo do museu, separando as duas partes, fica o espaço aberto do belvedere, que não se destina a nenhum uso particular, a não ser aquele voltado para o repouso e para a contemplação. O espaço do terraço é a extensão da rua. A intenção da arquiteta foi fazer da solução final, um tributo ao povo. "O vidro das paredes do museu de São Paulo não é o vidro das paredes formalistas", escreveu Lina Bo. Nada deve estar confinado entre paredes. A transparência é uma condição a ser acentuada no período de adversidade política. O recinto principal de exposição, a Pinacoteca, é um vasto ambiente completamente aberto para a paisagem. Foi projetado tendo como princípio a planta livre. O projeto dissolve as fronteiras entre interior e exterior. Os muros de contenção - revestidos de argamassa preenchida com pedra britada - criam o pano de fundo para a sucessão de lagos que contornam o embasamento.
O Masp é um conjunto sofisticado de projetos - urbanístico, arquitetônico, estrutural e de instalações - extremamente coesos que resultam em uma imagem vigorosa, afirmativamente simples. Chegar ao Masp provoca um imediato bombardeio de sensações em sinestesia, comuns a todos, arquitetos ou não. A essas fortes impressões, soma-se a dimensão simbólica, na qual o Masp e seu entorno tornaram-se a grande referência pública para as reuniões abertas e manifestações da cidade de São Paulo.
A imagem que o conjunto transmite imediatamente é a de uma grande caixa pendurada em duas traves vermelhas, que deixa abaixo o grande vão, o popular "vão livre do Masp".
Mas para compreender verdadeiramente a estrutura é preciso conhecer outra dupla de vigas: as internas à caixa suspensa e que são muito mais sobrecarregadas do que as visíveis vermelhas. As quatro vigas são protendidas por um sistema de protensão criado pelo engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz, professor da Escola Politécnica e da FAU, ambas da USP, sistema diferente do comercialmente mas, bem-sucedido Freyssinet, empregado no mundo todo.



Lina Visitando a obra do Masp

Masp

Execução Vista Interna

Execução -Fundos

1957 - Inicio da construcao nova sede Av. Paulista

Masp em Construção

Masp

Masp

Masp

Figueiredo Ferraz foi um dos precursores da protensão no Brasil. Ele utilizou técnicas pioneiras nessa obra como, por exemplo, a injeção de óleo no aparelho de apoio de Neoprene para reduzir o atrito durante o processo de protensão (imagen ao lado).
O modelo estrutural é formado por dois pórticos compostos por quatro pilares parcialmente vazados, apoiados em sapatas excêntricas e quatro vigas vazadas em toda sua extensão. Estas últimas, por sua vez, apoiam três lajes, todas elas nervuradas, porém, cada uma com sua peculiaridade. A laje superior é envolta por vigas esbeltas e possui nervuras verticais e no formato "V" ou lajes calha. As nervuras verticais possuem elementos de ligação monolítico que transpassam as vigas de cobertura dos pórticos, essas últimas facilmente reconhecidas pela sua coloração vermelha da arquitetura acabada. Já a laje intermediária possui nervuras simples e se apoia monoliticamente às duas vigas principais dos dois pórtico que, por sua vez, se apoiam nos quatro consoles dos pilares, por meio dos aparelhos de apoio de Neoprene e óleo, já descritos.
A laje inferior, com sistema de nervuras executado pelo método "caixão perdido", possui uma das peculiaridades mais interessantes deste empreendimento: tem transmissão indireta de esforços por meio de cabos suspensos nas vigas principais.
A dupla de cima suporta a carga da cobertura do prédio, o que não é pouco, mas que não tem usos ou sobrecargas, enquanto as vigas internas suportam as cargas de dois andares inteiros - cada um com 2 mil m² de área útil, com cargas que somam arquivos, pessoas que trabalham ou visitam o prédio, o acervo que tem até esculturas maciças em mármore, que ora podem estar expostas em um local e ora em outro, etc. São os níveis +14,40 e +8,40.
A dupla de vigas principais, portanto, são hipercarregadas. Elas resistem a uma carga de 30 tf/m, ambas vencendo um vão de 70 m. O momento na viga, no centro do vão, é de 20 mil tf/m. Equivale ao momento que uma alavanca, com 20 tf na extremidade, provocaria no seu apoio a 1 km de distância.
Um grande desafio como este só seria resolvível com um grande projeto de arquitetura absolutamente amalgamado a um belíssimo projeto de engenharia. Junção rara, que constitui a verdadeira história da Arquitetura (com A maiúsculo). Foi uma obra com muitos percalços e entraves que demorou dez anos para ser concluída.
As vigas principais protendidas são biapoiadas - isostáticas - em consoles salientes que partem dos pilares para dentro do prédio e, embora grandes, são quase imperceptíveis aos visitantes. Foram executadas antes do que o nível +8,40, que foi feito depois, "pendurado" nas vigas.